CANTIGA DE UMA SAUDADE
Rejane Costa Barros
Meus
olhos vislumbram a sombra de uma casa antiga
e
um cheiro de alfazema se mistura em longos golpes,
percorro
toda a cor desta seara,
busco
o repouso neste cântico de bem-te-vis.
Há
sempre um pássaro rondando essas escrituras
nervosas
palmas de uma lembrança muda
e
me perco nesse cinza de tempestade,
nessa
soleira debulhada de esperas,
neste
anúncio enlouquecido de poeira
ergo-me
e alço o voo sonolento dos esquecidos.
Minha
palavra é áspero golpe de lança fria
sombra
de um cão espreitando a noite e anunciando o dia
molhando
o barro com suas intrigas,
uivando
suas dores e recolhendo as fibras da noite gélida;
até
meus cabelos têm sons, alma própria desafiando o nada.
Um
trem interrompe esse silêncio manso e morno
e
faz a viagem de volta, traz lembranças e sossegos,
recorda-me
a solidão dos teus braços,
os
segredos dos teus gritos e a ausência da tua fala em desalinho.
O
que canto é uma cantiga de saudade, um lamento
e
esta casa sem vigas, sem janelas, traz-me a toda hora,
a
lembrança de uma infância perdida
revelando
a cada minuto, as suas nódoas.
Por
certo, outras saudades existem em mim
muito
mais que essa oferecida há pouco
e
por mais simples que sejam, vou reinventando novas datas
criando
outros calendários, pronunciando outros discursos,
adormecendo
meus fantasmas, pequenos sobreviventes.
Entrego-me
neste silêncio e vou seguindo o frio e o açoite do vento
um
dia volto, para rever teus passos, ouvir tuas sílabas,
mergulhar
em outras dores, visitar outros regaços
e
procurar a quem revelar os meus segredos!
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